O Esperado Banquete
“E vi uma mesa de pura prata; tinha muitos quilômetros de comprimento, contudo nossos olhares podiam alcançá-la toda”
Em um determinado dia do ano de 1880, uma pequena cidade do Paraná, que de insignificante que era não é mencionado o nome, estava em ebulição. Não por sua grandiosidade ou importância econômica, mas pela posição geográfica que ela ocupava, encontrava-se entre as cidades da viagem de vinte e dois dias que o imperador D. Pedro II faria por aquele estado do Sul. Aliás, o nome do pequeno vilarejo talvez esteja incluso em uma das 5.500 páginas do diário de viagens, escrito a lápis pelo monarca durante as suas andanças pelo Brasil e pelo mundo em seus 49 anos de reinado.
Os assessores do imperador não programaram parada ali senão para tomar um pouco d’gua. Mas o mandatário do país foi incisivo: “Quero passar um dia com essa gente”. Para tal, com a inexistência de hotéis, um influente fazendeiro da região foi escolhido para recepcionar a inusitada comitiva.
Porém, o que despertou a expectativa dos modestos moradores foi que todos eles, incluindo os escravos, foram convidados pelo anfitrião a participar do banquete. “Com certeza haverá alguma variedade de prato que nunca vimos pela frente”, diziam alguns. Enquanto outros externavam a dúvida de como se portar diante de uma autoridade tão ilustre.
Devido às fortes chuvas que caíam, à precariedade das estradas e aos rústicos meios de transporte, não se sabia ao certo a hora de chegada do imperador. Diante dessa incerteza, todos se reuniram logo pela manhã no aguardo do inusitado momento. Alguns usavam roupas remendadas, porém limpas. Outros se valiam de peças emprestadas. Mas todos sob um manto de civilidade se posicionaram junto à poeirenta estrada, por onde os carros de bois passavam com frequência exalando o seu choramingado cântico como um monumento ambulante a quebrar o monótono silêncio do sertão.
De repente, um som de corneta ouviu-se ao longe. Todos os olhares se voltaram para a primeira curva do caminho. Era o tão esperado imperador que chegava. Cavalheiros, agora cavaleiros, exibiam os seus ginetes, que, em trote cadenciado, faziam transparecer a solenidade do cerimonial. Por fim, num raro momento de amenização da chuva, a suntuosa carruagem se desponta ofuscando a vista dos presentes com os seus imperiais adereços brilhando sob a luz do desconfiado Sol, arrancando suspiros e aplausos do minguado grupo de expectantes.
Mas o grande momento do almoço se aproximava. Todos agasalhavam uma oculta curiosidade quanto às iguarias reais que logo estariam sobre a mesa para deleite dos convivas.
O fazendeiro faz de uma cadeira o seu pedestal improvisado. Todos os olhares se voltam para ele e, em silêncio, aguardam o que ele tem a dizer. Após um momento de suspense, ouve-se a sua voz pausada, mas firme: “Excelência, hoje o seu almoço não vem acompanhado do tempero palaciano. Trata-se de uma refeição simples como simples é o povo que dela participa”, e completou: “A sobremesa será o senhor entregar as setenta cartas de alforria que eu preparei para todos os meus escravos”.
A solenidade do almoço se transformou em estrondosa euforia por conta da alforria coletiva. Com esse inusitado ato de humanidade o anfitrião transformou o pacato lugarejo no arraial da alegria. Que momento apoteótico! Num misto de lágrimas e sorrisos os crioulos, agora livres, saltavam regozijantes fazendo tremular nos ares o papel que lhes garantia liberdade e cidadania. Agora livres, poderiam ir e vir como lhes aprouvessem; agora, tendo a certeza de receber remuneração por qualquer trabalho realizado. E melhor, nunca mais estariam sujeitos a açoites ou algum outro castigo inconsequente. Que maravilha de festa! Com certeza todos nós gostaríamos de tê-la presenciado mesmo como meros figurantes. Mas a Bíblia nos assegura que Deus está preparando uma cerimônia festiva de maior magnitude, em demonstração de amor e compaixão, acrescentada de quatro adendos especiais.
Em primeiro lugar, o banquete real é estendido a toda a humanidade sem distinção de raça, cor ou etnia. Em segundo lugar, esta carta de liberdade será oferecida a todos os escravos do pecado, aqueles que, segundo Paulo, gemem e estão com dores de parto até agora (Romanos 8:24) E o próprio apóstolo nos assegura que esta triste situação abrange a todo o ser humano: “toda a criação geme” (Romanos 8:24).
Em terceiro lugar, eu e você temos o inusitado privilégio de participar desse momento festivo, não como meros expectadores, mas sim como protagonistas desse majestoso evento de especial interesse para todo o Universo. Todos nós somos convocados a repetir o gesto daquele fazendeiro e oferecer a carta de alforria para toda a humanidade. No momento, esse trabalho poderá não ser tão fácil. Mas, veja as palavras de encorajamento que a Bíblia nos apresenta: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmos 126:5 e 6).
Que felicidade caberá a nós ao vermos pessoas eufóricas libertas das drogas e dos demais vícios que escravizam e matam. Pessoas, antes condenadas à morte, sendo revestidas da imortalidade outorgada somente aos santos. Todos felizes e regozijantes pela liberdade alcançada e, para sempre, sentindo-se livres do nefasto azorrague de Satanás. Que emoção será receber o abraço de pessoas agradecidas pelo eternal convite oferecido por você ou por mim.
Ellen G. White assim descreve este momentoso banquete: “E vi uma mesa de pura prata; tinha muitos quilômetros de comprimento, contudo nossos olhares podiam alcançá-la toda. Vi o fruto da árvore da vida, o maná, amêndoas, figos, romãs, uvas e muitas outras espécies de frutas” (Vida e Ensinos, p. 62).
Em breve o nosso Rei virá para pôr fim à escravidão do pecado. Os sinais que precedem a Sua vinda se multiplicam no mundo. Dentro em pouco, Sua carruagem despontará majestosa por entre as nuvens do céu. Todavia, antes que este aguardado evento aconteça, não podemos fugir à nossa missão. Deus não nos colocou aqui por acaso. Ele espera que, semelhante àquele fazendeiro ignoto, ofereçamos cartas de alforria para os escravos do pecado que estão tracanfiados na escura senzala que se transformou o nosso mundo. Com atitudes simples, como um sorridente bom dia, um pão quentinho ou qualquer outro ato de bondade, convidemos o mundo a participar dessa grande festa que nos espera.
Quanta felicidade nos aguarda! Ali os escravos da cegueira verão a Deus face a face. Os aleijados saltarão de alegria, os mudos soltarão as suas vozes em hosanas ao grande Rei e os sorridentes ex-escravos dos vícios para sempre serão reabilitados.
E, por último, a visita do monarca, embora tivesse dia marcado para acontecer, não era possível precisar a hora exata que ele chegaria. Assim, logo pela manhã, todos estavam com roupas limpas e atentos esperando por ele junto à estrada. Da mesma forma, a volta de Jesus não tem dia nem hora marcados. Ele apenas nos adverte: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem há de vir” (Mateus 25:13) e acrescenta: “Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando” (Lucas 12:37).
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